“Seu currículo é uma colcha de retalhos!"
O que faz com que profissionais que vão contratar talentos pensem assim? Segue uma análise.
Quem assistiu ao filme “Voo da Fênix", de (2004), sabe bem que o final surpreende. A salvação do grupo, que teve seu avião destruído após queda em um deserto, foi a participação incômoda e eficiente de um aeromodelista (quem constrói aeromodelos, miniaturas de aviões), que reprojetou a aeronave conforme sua experiência em projetos miniaturizados. O aeromodelista não era engenheiro, nem tinha a formação da maioria das pessoas que estava com ele no deserto. E seu projeto tirou a todos daquela surreal situação. Ok. O que tem a ver esse exemplo com o tema? Tudo. Na educação, por exemplo, tenho um belo modelo de adaptação.
O ato de ensinar exige 3 habilidades: empatia (colocar-se no lugar do aluno), técnica (expertise e conhecimento) e esforço (aqui entra o “x" da questão). Você aí pode pensar que um professor nasce professor e trabalha em prol de sua esfera de interesse, melhorando até consolidar-se. Um dom. Mas, não é só isso. Às vezes, não é só o dom. É preciso querer e esforçar-se.
Um exemplo disso é minha satisfação em notar resultados notórios no aprendizado de Física de meus alunos do Ensino Médio. Fui professor de Matemática e Física no Anglo de Paraty (RJ). Os resultados dos desempenhos dos alunos chocaram-me. Em uma análise gráfica, em reunião docente, a análise mostrou o desempenho geral da instituição (em linha preta) e o gráfico colorido sobre esta linha apresentou o desempenho das minhas turmas específicas na disciplina. E a área colorida, relativa à Física, alcançou, com certa vantagem, a média de notas gerais do total da análise nacional. Resumindo: o aproveitamento dos meus alunos foi bem satisfatório.
Por isso, quando um acadêmico, ou, um teorizador “sabe-tudo" aparece, com suas teorias sobre “ter uma carreira sólida, consolidada e calcada em apenas um segmento do conhecimento", só a argumentação empírica acima refuta a tese da super especialidade. Não aceito, como gestor e empreendedor de uma empresa, nem como educador e professor de uma das ciências mais importantes para o desenvolvimento humano, que não haja programas e oportunidades para talentos escondidos, verdadeiras sumidades que não conseguem atravessar linhas de progressão devido ao caos instaurado na política e em empresas “low profile“, com mentes pequenas (que não contratam talentos por medo, enfim), com formações paralelas etc.
Esse texto é para todos aqueles que defendem uma carreira linear. É pra aqueles que dizem que o currículo alheio é uma “colcha de retalhos" (já ouvi isso de uma headhunter, em 2013) com inúmeras e diferentes formações. É para aqueles que criticam quem estuda muito.
Se você pensa que estudar muito é um problema, ou, se concorda com o headline deste post, então, assista a esse sensacional vídeo (abaixo) sobre “habilidades e competências do século 21", por Charles Fadel. Professor de Harvard e fundador do Center for Curriculum Redesign, Charles Fadel é um dos principais pensadores globais sobre a educação do futuro.
Quem julga mal uma carreira diversificada como falta de foco, perde a oportunidade de calar-se para ter razão. Nosso país tem estado imerso em dificuldades criadas pela macroeconomia. Devido aos problemas que muitas empresas têm sofrido, como pagamento de alta tributação e falta de crescimento, as contratações seguem lentas, resultando uma exigência hiperbólica sobre a caça de talentos. Muitas vezes, essa busca é exagerada e menospreza super mentes que fariam a Fênix voar (no caso, aqui, a empresa) novamente, mas, esses talentos são negligenciados.
Eu quero parabenizar as empresas que buscam talentos com mentes abertas, multifacetadas e multidisciplinares, que estudam tudo e que estejam em patamares distantes do modelo focado em uma carreira sólida e estável (baseada em conhecimento pleno de uma área específica). O governo cria uma super dependência de seus serviços e ofertas, como a carreira pública que é, de certa forma, estável. Mas, cria uma ilusão, ao passo que produzem carreiras inertes e que conduzem à zona de conforto estática, improdutiva e burocrática por não evoluírem e não desenvolverem prodígios científicos.
Finalizando. Medo, talvez? Mas, uma empresa só evolui se reinventar-se. Num caos político, onde não há crescimento, quem tem talento e conhecimento pode reinventar-se e criar novos rumos. Sinto muito por você, que não estuda e que não evolui, que fica na área de conforto, que não sai da bolha inercial. Boa sorte. O futuro não será generoso com carreiras e empresas inertes em suas idiossincrasias estáticas e paradigmas inflexíveis, rígidos e imutáveis.
A mudança está em seus colaboradores e no modelo de negócio. Adaptação e escolhas revolucionárias são palavras chaves, sem miopia, com foco nos planos B, C, D…
Texto: Prof. Wagner Ballak, 2019.
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